Desde o tempo em que era servido como uma oferenda a Iansã, o acarajé e o ofício das baianas passaram por uma série de mudanças: a receita já não leva apenas o tradicional bolinho de feijão; a vestimenta branca, a saia rodada e a bata que caracterizam a indumentária foram substituídas por outras roupas; e a preparação do quitute - até então restrita às mulheres - passou também a ser feita por homens.
Nailton Santana, conhecido como Cuca do Acarajé, se diz o primeiro baiano de acarajé do Brasil e relata que no início sofreu com as colegas baianas. "Elas achavam que os homens iam tomar o lugar delas, mas depois perceberam que há espaço para todo mundo", conta. Um outro baiano conhecido é Gregório do Acarajé, que monta seu tabuleiro no Shopping Barra, que aprendeu o ofício com a mãe e hoje sustenta seus filhos com a venda da iguaria.
Além de passar a ser um ofício também dos homens, o acarajé deixou de ser encontrado somente no tabuleiro da baiana e, hoje, pode ser comprado em delicatessens e restaurantes. Outra transformação, esta mais recente, é a venda da iguaria por pessoas de outras religiões, além do candomblé. Os evangélicos, por exemplo, chamam a iguaria de "bolinho de Jesus", e alguns deles se recusam a vestir o traje de baiana, o que levanta polêmica entre as baianas antigas e as mais modernas.
Para Cláudia de Assis, filha de Dinha do Acarajé - falecida em maio deste ano -, a venda da iguaria se tornou um meio de sobrevivência, mas a tradição deve ser mantida. "Qualquer pessoa pode comercializar o acarajé, independente do sexo e da religião, mas o acarajé sempre foi um produto africano, do povo-de-santo e será assim sempre. O bolinho de feijão-fradinho frito no azeite de dendê não pode ser dissociado do candomblé. Se o bolinho que eles vendem é de Jesus, o nosso é de quê?", questiona.
Já na opinião de uma "vendedora de acarajé" evangélica, que não quis se identificar, é preciso respeitar a individualidade de cada religião. "Não nos consideramos baianas e como podemos dizer que o que vendemos é acarajé, se somos contrários ao candomblé? Vendemos porque precisamos", defende. (F.M.)
Fonte: http://www.atarde.com.br