Revoltados com a morte ocorrida nesta segunda-feira (12) do ogan (nome dado a homens que exercem funções relevantes dentro de uma casa de Candomblé) Ival Conceição dos Santos, 27 anos, moradores da localidade da Baixinha do Santo Antônio, no bairro do Retiro, periferia de Salvador, destruíram a residência e o terreiro de Candomblé do pai-de-santo Ailton de Obaluaiyê.
Ele é acusado de queimar Ival vivo num suposto ritual. A vítima foi sepultada ontem mesmo, no final da tarde, no Cemitério de Quintas dos Lazáros, em meio a inúmeros pedidos de Justiça.
Segundo policiais da 11ª CP, que investiga o caso, o crime ocorreu no domingo (4). Desde então o pai de santo está foragido. O ogan, que teve principalmente os órgãos genitais queimados, foi internado em estado grave, no Hospital Geral do Estado (HGE), onde faleceu.
Vizinhos da vitima são unânimes em apontar o ciúme como causa do crime. O pai-de-santo seria apaixonado por Ival e não permitia que o rapaz se aproximasse de nenhuma mulher.
Entretanto, um namoro iniciado em dezembro, por Ival, com uma moça da sua idade, residente nas proximidades do terreiro, teria provocado a ira do pai-de-santo. "Ailton sempre teve ciúmes de meu filho. Ele chegava ao ponto de invadir minha casa, aos gritos, perguntando por Ival, revistando tudo, até debaixo das camas, para ver se o flagrava com mulher", conta a mãe do rapaz assassinado, Maria Conceição, de 52 anos.
Segundo ela, quando o filho ainda era criança foram acolhidos no terreiro porque a família tinha ficado desalojada. No entanto, ao encontrar uma nova moradia, o garoto insistiu em continuar residindo na casa de Candomblé, onde permaneceu trabalhando como caseiro por cerca de 14 anos.
Maria Conceição lembra que o filho passou a manhã de domingo em sua casa e, pouco antes do almoço, comentou que iria até o terreiro. "Somente no final da tarde fui avisada de que meu filho havia sido levado para o HGE", diz. Segundo ela, testemunhas teriam ouvido o jovem implorar para não ser queimado pelo pai-de-santo.
No quebra-quebra desta segunda-feira, os moradores do bairro demonstravam a intenção de linchar Ailton, caso o encontrassem.
"Inúmeras vezes disse ao Ival sobre minhas desconfianças com relação a Ailton, mas ele não me ouvia, já estava acostumado ao trabalho no terreiro", lamenta a mãe.
Embora o terreiro funcionasse há muitos anos, não há registros de associação de Ailton de Obaluaiyê na Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro (Fenecap), onde os responsáveis informam que membros de qualquer religião estão suscetíveis a crimes passionais.
Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br