LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador
O Ministério Público da Bahia começou a investigar nesta quinta-feira a demolição do terreiro de candomblé Oyá Unipó Neto, em Salvador.
Sob a alegação de que o terreiro ocupa área pública, funcionários da prefeitura destruíram quase todas as dependências do templo --apenas duas paredes sobraram.
"Foi um crime contra a raiz negra, e não me deram direito à defesa", disse a ialorixá Roselice do Amor Divino, 50, que comandava o terreiro.
Para a mãe-de-santo, a demolição foi autorizada para atender a especulação imobiliária. "Há pouco tempo construíram um shopping e agora os especuladores querem continuar ganhando dinheiro à custa da religião."
Inaugurado há quase 30 anos, o terreiro foi reconhecido pela Secretaria Municipal da Reparação durante mapeamento feito no ano passado.
O promotor Almiro Sena, do Grupo de Atuação Especial de Combate à Discriminação, disse que a decisão da Prefeitura de Salvador foi inconstitucional. Para ele, a prefeitura deveria ter negociado com a mãe-de-santo antes de demolir o templo.
Em depoimento ontem ao Ministério Público, Roselice do Amor Divino disse que fiscais da prefeitura também destruíram pratos e colheres de pau --usados na oferta de alimentos às entidades-- e insígnias dos principais orixás.
De acordo com a prefeitura, dos 1.236 terreiros de candomblé catalogados pelo município, apenas 470 possuem regularização fundiária. A superintendente da Sucom (Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo), Kátia Carmelo, disse que vai esperar o relatório dos técnicos que trabalharam na demolição para apurar se houve abuso na ação.
Fonte: Folha Online